quarta-feira, 14 de março de 2012

NOTA DE FALECIMENTO

BOM DIA, SOU CLÁUDIA, AMIGA DA FAMÍLIA, INFORMO A TODOS QUE A SUELLEN, PROPRIETÁRIA DESTE BLOG, FALECEU ÀS 5 HORAS DA MANHÃ DESTA QUARTA-FEIRA, DIA 14 DE MARÇO.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

50%


Eu não podia deixar de postar o trailer deste filme aqui, como indicação obrigatória pra quem quer entender um pouco do que se passa na mente de quem tem câncer. Genial e emocionante. Assistam!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Nunca é demais repetir

Às vezes, paro pra pensar e percebo o quão desatenta e indelicada eu estou sendo com as pessoas que, incansavelmente, me levantam o astral, me fazem ficar de pé, seja com visitas, com mensagens de incentivo e apoio, tanto aqui no blog, quanto no Facebook, no e-mail, no celular, enfim...

Sinceramente, admiro vocês por isso. É preciso ter um bom coração pra dizer coisas tão bonitas quanto as que eu ouço, e voltar a dizer, mesmo que muitas vezes sem uma resposta minha. Eu faço o possível pra responder a todos, mas certamente não consigo o fazer à altura.

Os textos também não são nem 1% de tudo o que a maquinaria do meu cérebro pensa e o meu coração (quase sempre apertado) sente. Em muitos não cito nomes e, mesmo quando cito, ainda deixei de citar dezenas de pessoas que já fizeram e fazem diferença na minha vida.

Por isso, àqueles que não se sentem devidamente lembrados ou agradecidos, vai aqui meu carinho. Eu tenho certeza que cada um sabe o valor que tem pra mim. E se não sabe, é também nesse sentido que quero me esforçar. Sobre as críticas, elas também são endereçadas a alguém, mas, creio eu, estas pessoas nem devem ler e, se leem, acredito que consigam entender.

De qualquer forma, o mais importante pra mim é que quem eu escolhi para o meu convívio (e que também me escolheram para o seu convívio) tenham a plena certeza do meu sentimento por elas. Porque sentimento bom nunca é demais ser expressado. Um abraço!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Doce São Paulo. Ou não tão doce assim.

Indiretamente, em meados de outubro do ano passado, comentei aqui sobre um tratamento que começaria em São Paulo. Durou de novembro ao início de janeiro e, enquanto não terminou, preferi não dar relatórios sobre, por uma questão lógica. Não queria me precipitar sem ter algum tipo de resposta concreta quanto ao tal tratamento. Agora que já tenho, resolvi contar. Aliás, agora que não tenho.

Os exames feitos no início do ano mostraram a falta de eficácia dos remédios. Um tumor progrediu, o outro não. Mas isso não importa. Vou falar do que eu trouxe de bom dessa experiência. Ou pelo menos do que eu trouxe de substancial. Em primeiro lugar, São Paulo é um inferninho - definitivamente não está entre os lugares que sonho em morar. Segundo, senti saudades do hospital daqui (???). Sim, mesmo sendo apenas um número em ambos, aqui pelo menos sou um número mais antigo, e já conhecida por não levar em consideração comentários pessimistas sobre o meu futuro.

Aliás, quem disse que médico tem dons premonitórios? Foi-se o tempo em que "doutores" eram considerados deuses. A propósito, vivi uma situação parecida no início do ano passado, com um outro "doutô" (professor com doutoramento). Felizmente, as previsões proféticas dele não funcionaram, assim como também acredito que as do "doutô" deste ano não vão funcionar. O bom de tudo isso é que nem preciso frequentar tarólogas; os médicos e professores também estão fazendo esse tipo de serviço.

Gabi, mãe, Tuca e turismo no MASP.
Nem era esse o assunto principal... Queria, depois de todas as angustiantes e cansativas viagens a São Paulo, principalmente agradecer quem nos deu (a mim e à minha mãe - eterna acompanhante) o apoio necessário. Apoio, no sentido denotativo e conotativo, já que evitou que tivéssemos que nos hospedar na casa de apoio, dando uma assistência digna de hotel 5 estrelas. Ao querido casal de primos Sérgio e Edna, e à sua filha, doce Gabriela, muito obrigada pela receptividade, atenção, carinho e, claro, pouso e deliciosa comida. Tá aí o lado bom de ter parentes espalhados por todo canto. :)

Segundo o Burnier, tenho traços parecidos com os da Sonia Bridi.
Ah, não dá pra esquecer da incrível oportunidade de visitar as instalações da Globo, conhecendo os bastidores do jornalismo, do esporte, do entretenimento, bem como os profissionais que estão na frente e por trás das câmeras. Camarins, ilhas de edição, estúdios, cafezinho, enfim, pude conhecer cada cantinho do lugar onde qualquer jornalista julgaria interessante ser explorado. Entre outros passeios que pude fazer pela cidade, conhecendo a parte boa dela, este foi o mais significativo. A parte dos ônibus, metrôs, lugares transbordando gente, nem preciso dizer que não foi legal, porém válida. Reforçando que não pretendo voltar tão cedo, não fosse pra visitar a família ou quem sabe um trabalho, ou doutorado. Saúde acho que não mais.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E quando não estiver tudo bem, finja

Tudo muito bom, tudo muito bem. Geralmente nesta época é assim. Votos de felicidades para o ano que se aproxima. E tudo isso é importante, até um certo limite. Eu costumo dizer que tenho uma grande capacidade de saber quem é meu amigo ou não, quem gosta de mim ou não, quem se preocupa comigo ou não, etc. E como já disse aqui, são realmente pouquíssimas pessoas. E é assim com todo mundo. Ninguém é totalmente amado, nem totalmente odiado. Simples!

Mas, infelizmente, no meu caso, as vezes tenho que convencer (não a mim, mas a quem se diz preocupado) que estou acreditando que a vida é bela, que tudo vai muito bem. Não é querendo parecer revoltada, mas cá entre nós, a vida não é perfeita pra ninguém. Os problemas existem sim, sempre existiram. A diferença é apenas a forma como você decide lidar com eles.

Por exemplo, se me perguntam: "Tudo bem?", em grande parte das vezes eu vou responder "Sim". O assunto vai parar por ali, ou vai partir pra outro rumo, e haverá uma convenção de que está tudo bem. E aí podem ter ocorrido duas coisas: ou realmente está tudo bem, ou a pessoa que perguntou só perguntou por perguntar, por costume, ou seja lá por qual motivo. E como, em 10 anos de experiência, não é muito difícil dicernir qual o interesse da pessoa em perguntar, dá-se o tipo de resposta que a pessoa quer ouvir.

Muitos vão dizer: "Poxa, que radical!". Que seja. Mas prefiro fingir do que ter que escutar discursos que saem da boca pra fora, ou um olhar de piedade, ou então um silêncio fúnebre. Dó e pena não me ajudam em nada, nunca ajudaram. Agora, quando o "Tudo bem?" vem de alguém que você sabe que, seja qual for a resposta, vai estar pronto pra ajudar, seja contando uma piada, chamando pra um programa qualquer, ou simplesmente existindo e fazendo os seus dias valerem a pena, compensa desabafar e soltar um "Não, tá uma merda!". Porque a pessoa não vai se assustar com a sua resposta, não vai te achar agressivo, antipático, negativo, depressivo. Ela só vai entender que você, apesar de forte (como costumam dizer), é uma pessoa normal, que também tem crises de tristeza.

O que eu quero dizer com tudo isso é que uma pessoa "doente" não está sempre disposta a "visitas de doente" (aquelas feitas por obrigação), não está sempre com aquela paciência descomunal pra responder perguntas feitas constantemente, as quais nem sempre têm respostas ideais, com grandes doses de positivismo. Ás vezes, a única vontade que se tem é simplesmente deixar de ser notada (não por quem quer, mas por quem se sente forçado a manifestar-se). Porque, sério, eu não vou me importar caso esse tipo de pessoa admita sua indiferença a situações reais de sofrimento.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Então é Natal

Quando o dia 25 se aproxima, ainda que tudo não esteja mil maravilhas, eu não consigo deixar de agradecer, por um simples motivo: não estar hospitalizada. Tudo bem que já passei aniversário, dia das crianças (quando ainda era criança) e outras datas "menos importantes" no hospital e, estar internada, seja em qualquer época do ano, é horrível. Mas, não sei porque, no Natal é imperdoável e inesquecível.

Por isso, a cada ano que tenho um Natal em liberdade, embora com dores e sabendo que mais internações me esperam pra 2012, já fico satisfeita. Por mim. Não por todas aquelas crianças, adultos e idosos que emendam natais e mais natais enfermos; por todos que estão lá neste momento e não têm expectativa de alta, nem até o dia 25, quiçá nenhuma outra previsão.

Então, meu pedido para o papai Noel não é brinquedo, não é casa, nem carro; não é luxo, tampouco viagens ou uma grande festa. O que eu peço é para que o máximo de pessoas possível consiga passar o Natal no conforto do seu lar e no aconchego da sua família. E peço mais: "que a saúde se difunda sobre a Terra", assim como sugere o tema da Campanha da Fraternidade 2012.

Pedidos feitos, quero expressar meu carinho pelos leitores desejando um Natal de paz e alegria a todos!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quem se importa?

Quem se importa com músculos, silicone e tatuagem, se o fato de ter um corpo inteiro e saudável (mesmo com tantas cicatrizes) é tudo que eu podia querer? Quem se importa com detalhes da organização de uma grande festa, se as melhores comemorações estão em acontecimentos diários, em notícias, em gestos, e não necessariamente em um dia D ou uma hora H? Quem se importa com dinheiro guardado, se o presente é toda garantia de vida que se tem? Quem se importa com o que dizem línguas ignorantes, se nem elas se importam com si mesmas? Quem se importa com falsas amizades, se elas não se importaram com você? Quem se importa com um dia ruim na semana, se existem outros seis? Quem se importa com o stress do trabalho, quando ter um trabalho é privilégio dos "saudáveis"? Quem se importa com criativas formas de desestímulo, se elas ficam soterradas em meio a tanto estímulo?

Talvez eu não me importe com praticamente 95% do que preocupa 95% das pessoas (talvez seja exagero meu). Elas podem saber disso, ou não. E elas podem compreender isso, ou não. Mas... quem se importa?

Essa dor

Não é uma dor de cabeça, nem uma cólica. Não dói o estômago, tampouco a bexiga. Também não é dor de cotovelo, e nem dor da alma. Não dói pouco, dói muito. E não pára de doer. Ora dói mais - de chorar -, ora dói menos, mas não cessa. Não é como a dor da cirurgia, que dura muito, mas sabe-se a causa. Não é como a picada de agulha, tão ardida, mas momentânea. Vira para cá, vira para lá, na busca de uma posição mais confortável. Perde-se o sono. Perde-se o apetite. Morfina já virou placebo, cadê o fim dessa dor? Dor que não me deixa tomar banhos demorados. Dor que me fez perder um chá de panelas no último domingo, e um trabalho temporário no início da semana. Ganha-se irritação. Dor que queima. Dor que causa angústia, que causa preocupação, que causa ansiedade, que causa dor.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Grande 2011

Este ano, apesar de atribulado, foi, ao mesmo tempo, muito valioso no sentido de me dar o que 2010 não conseguiu. Como ano ímpar que é, foi revigorante, porque me trouxe nova rotina, novas amizades, novas perspectivas. Trouxe-me muito trabalho, mas acima de tudo, vivacidade.

E todo esse trabalho que deu e vem dando sequência a uma etapa importante da minha vida não seria possível sem a ajuda e o amor de muita gente por aí. São desses que quero falar.
Dona Maria José: tia-avó mais que especial.
A começar pela tia-avó que é muito mais que um membro da família. É tia, é avó, é mãe, é amiga, é anjo da guarda. Por quê? Porque foi nela que eu descobri a segurança que eu precisava pra realizar todos os projetos deste ano. Se eu consegui me manter em Maringá após cada uma das duas cirurgias realizadas no primeiro semestre, foi com o apoio dela. E esse apoio inclui a comida deliciosa, a sopinha quente nos dias de inverno, a cama cheirosa, as conversas, a torcida e sobretudo o amor. Foi assim que eu ganhei uma nova melhor amiga, a dona Maria José.

Obviamente, junto com ela muitas pessoas conquistaram um lugar especial não só no meu cotidiano, mas no meu coração. O tio Egídio, com seu humor apurado e sua prontidão em fazer tudo o que fosse necessário, as incontáveis caronas - que iam da porta de casa à porta da sala de aula, com direito a carregar a bolsa, já que minhas duas mãos estavam ocupadas por duas muletas. Aliás, carona foi um item de primeira necessidade na minha lista, e aí também está incluso o Bruno, outra pessoa que eu pude conhecer mais de perto, e só tenho a agradecer por ser quem é. Não pára por aí...

À Carminha e ao Jo, casal de primos que talvez eu não fosse ter o contato que tive devido às circuntâncias, e que foram motivo de muitos risos e até papos sérios. Claro, não esquecendo de mais e mais caronas. Com o mesmo nível de otimismo, o outro casal de primos Bell e Du, sempre presentes e que, além de algumas outras caronas, são responsáveis por duas criaturas que fizeram de muitas das minhas tardes um jardim de infância: Lorena e Victor. Jogar xadrez e dama, desenhar, pular (digo, bater) corda, ajudar nas tarefas de português e ouvir histórias foram alguns dos meus mais novos programas de 2011, intercalados com a leitura dos meus textos.

Deixando o quadro familiar e partindo pro acadêmico, tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e que deixaram muito mais amenos os períodos de (tentativa de) compreensão das teorias. Professora Ismara, que aceitou o desafio de ser minha orientadora, sendo (por que não?) mais um apoio materno. Professora Sonia, em quem eu vi uma grande profissional, com uma competência inacreditável de exemplificar cada uma das Teorias Linguísticas. Professora Roselene, que me apresentou Pêcheux e fez desses estudos introdutórios grandes tardes regadas com café e prosa. Professora Maria Célia, que além de clarear ainda mais o obscuro mundo de Pechêux, me fez enxergar com olhos mais apurados as questões da política e da mídia. Professor Pedro, com seu tremendo e também admirável profissionalismo, mostrou que estudar Foucault não é mamão com açúcar. E professor Juliano, que, não menos importante, me fez perceber que a Análise do Discurso foi a escolha acertada.

Pra aprender, confundir-se, pirar e sofrer comigo, encontrei vários coleguinhas, tão aspirantes quanto eu - a maioria menos, bem menos. A turma da AD: Mari, Dani, Alessandro, André, Raquel, Ludmila; a turma do GEDUEM: Marga, Aline, Jefferson, Michelle, Érica; o pessoal das outras linhas: Tiago, Adriano, Maria Amélia, Marli, Adélia, Silvia e muitos, muitos outros (não dá pra citar todos aqui). A todos esses e também aos que não foram citados (sintam-se como tal), meus sinceros agradecimentos por toda força e todo aprendizado que vocês transmitiram pra mim. E assim vai continuar, afinal, ano que vem a saga tende a "piorar" um pouco. Grande abraço a todos!

?

Faz muito tempo eu queria descobrir o que é o amor.
Procurava por todos os lados.
Um dia ele se escondeu pra sempre de mim.
Foi então que eu o conheci.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

2x2

Sinto carinho por muitas pessoas. Muitas passam - por curtos ou longos períodos - pela minha vida. Alguns muito curtos, mas suficientes pra eu me lembrar às vezes. Ou não me lembrar nunca mais, mas que me fazem parar pra pensar ali, naquele mesmo instante. E fazem toda diferença, conscientemente ou não. Alguns são dignos de lágrimas, outros de sorrisos, outros de reflexões.

Mas existem algumas pessoas que, estas sim, são inesquecíveis, e, estas sim, fazem a diferença conscientemente. Hoje quero falar de quatro dessas pessoas, quatro grandes amigas: duas de cá e duas de lá. As de cá entraram na minha vida quando ainda éramos crianças. Há fotos denunciantes. Mesmo com os vaivéns (meus, delas e da vida), com os passageiros desencontros, que se tornam novamente encontros, uma está sempre lá pra outra (ligando, visitando ou mandando sinal de fumaça). Desde a pré-escola, quando a única preocupação era comer ou não o sanduba de carne moída, e não ser a chata no dia da formatura por usar uma roupa diferente, passando pelo ensino médio, em que o primeiro namorado era o único assunto do dia, da semana e do mês, até a faculdade, e, agora, pós-graduação. Os assuntos nunca se perderam, nós nunca nos perdemos.

As de lá entraram e "saíram" da minha vida de forma mais rápida. Mas foram, sem dúvida, os melhores anos, e as melhores recordações. Conheci já na graduação e ainda não consegui parar de ter os mesmos papos daquela época. Acho que isso é normal, e nem espero que acabe. Aliás, quero que sempre continue, e que o contato seja sempre próximo, como é. Pois não importam se poucos ou muitos quilômetros de distância, a sensação é sempre a mesma, de presença. Em maus ou bons momentos. E isto é grande parte da força que eu preciso.

Portanto, Fer, Jo, Fran e Rê, tratem de não me abandonar, ok? :)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Há sempre duas opções?

Algumas pessoas já me perguntaram "O que fez você nunca desistir?". E eu sempre respondo "Essa não é uma opção". Pode parecer simples, falando assim. Claro que não é. Mas vou tentar responder essa difícil questão.

Sim, por variadas vezes, já tive pensamentos insanos de fraquejar, mas não demora muito tempo até eu recuperar minha consciência. Porque, imagine se fosse você (que já me perguntou isso), você desistiria mesmo? Pode até pensar "Eu não vou fazer tal cirurgia" ou "Eu vou abandonar esse tratamento", mas logo em seguida imagina "E depois?". Depois com certeza vai ser pior, e depois com certeza você vai sofrer ainda mais. Depois pode ser que nem haja mais solução.

Mesmo que o que eu estou fazendo não esteja sendo a solução, pelo menos é a busca dela. E é assim em tudo na vida. Ninguém sabe o que pode ou não dar certo. Mas ser covarde é mais inadmissível do que sucumbir. Caia, mas caia com elegância, com dignidade e com honra.

Reclamar também não é uma opção. Afinal, problemas todo mundo tem. E uma hora as pessoas se cansam de ouvir lamentações. Pessoas nem sempre estão preparadas para ajudar ou para encarar realidades que não são suas. Elas fogem do que é triste e você continua lá, sozinha, e com o mesmo problema. Esse ponto de vista faz entender de onde vem a força. Ela vem de dentro, vem de você mesmo, porque não há outra alternativa.

A vida nem sempre é feita de escolhas, porque às vezes há só uma opção. Até pra morrer é preciso ser forte.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lula e SUS: mais uma a opinar

Desde o último sábado (29 de outubro), dia em que foi diagnosticado e divulgado o câncer do ex-presidente Lula, não param de pulular opiniões e mais opiniões na internet a respeito de tratamento público e privado. Claro que não vou deixar a minha passar em branco. Mas, de imediato, quero deixar claro que são apenas as minhas meras impressões.

Em primeiro lugar, muitas das pessoas que estão criticando, seja o Lula, seja o SUS, nunca tiveram que "enfrentar" um tratamento no sistema público, muito menos um câncer. Bem, eu, como paciente oncológica há 10 anos, sempre tratada através do SUS, tenho pelo menos uma "versão" real a dar.

Em segundo lugar, acho imprópria essa campanha que criaram, e foram reproduzindo indiscrimidamente. Nunca fui a favor de correntes sem fundamento, esta não ia ser a primeira vez. Embora compreenda o sentido de protesto que está por trás do ato, acho que grande parte dessas pessoas não faz nada pra ajudar quem está ao lado, então pra quê fingir preocupação em rede?

Em terceiro lugar, por que não fizeram nada parecido quando aconteceu com a Dilma ou com o José de Alencar, ou mesmo com outras personalidades famosas? Só o Lula tem defeitos o bastante para "merecer" o SUS? Nesse sentido, concordo com o Dimenstein, quando ele diz que "a interatividade democrática da internet é, de um lado, um avanço do jornalismo, e, de outro, uma porta direta para o esgoto do ressentimento e da ignorância", em "O câncer de Lula me envergonhou".

A propósito - e meu intuito não é, de forma alguma, defender o SUS - nunca fiquei na mão nesses 10 anos. Acredito sim que é um sistema com muitas falhas e, principalmente, muita demora. Se formos pensar em uma doença como o câncer, em que dias ou poucas semanas fazem toda diferença, não deveria mesmo haver demora, o processo tinha que ser mais ágil. De qualquer forma, no meu caso - e estou aqui falando apenas do meu caso - essa lentidão não causou maiores prejuízos. Percebo, em contrapartida, que apesar de um sistema falho e burocrático, as pessoas, as peças que compõem esse sistema, agem da melhor forma para que tudo se encaminhe com mais rapidez (salvo algumas pífias exceções).

A fim de não "cuspir no prato em que comi", quero aqui registrar que o SUS - pelo menos em termos de tratamento oncológico e restringindo também à região do Paraná (que é onde me trato) - funciona sim, e funciona bem. Eu nunca poderia dizer que é "a maior e a pior desgraça para qualquer ser humano" ou "uma porcaria federal", como fez Helder Caldeira no texto "Não desejamos SUS a quase ninguém". Mas também não sou hipócrita em dizer que se fosse o Lula ou tão rica quanto ele não me trataria num hospital de ponta.

Vale a pena resgatar um texto escrito por Cristiane Segatto em junho de 2010, que pergunta "O SUS deve dar tudo a todos?". Concordo quando ela diz que "falta dinheiro para cuidar da saúde dos brasileiros. [...] Devemos combater a corrupção sempre, em todas as áreas. Mas só isso não basta. Mesmo que não houvesse um único corrupto no Brasil, ainda assim o dinheiro da saúde não seria suficiente para atender a todos os nossos anseios por novas drogas e tecnologias".

Talvez isso vá contra mim mesma, já que os gastos que o governo já teve comigo foram muito maiores do que os que teve com a maioria de vocês que estão lendo. Porque tratar o câncer custa caro, muito caro. Eu tenho esse direito, mas não sei também até que ponto o dinheiro gasto comigo não está faltando para o atendimento básico em outros pontos do país. Por isso não vale a pena reclamar, e sim tentar entender onde está a fonte dos problemas. O mais correto seria que a maioria tivesse condições de pagar pelo tratamento, e não de depender do Estado. 

Até porque - palavras também de Cristiane Segatto - "Como se vê, todos estamos sujeitos ao câncer. Acontece com os velhos, com os moços, com os bebês. Com os ricos e com os pobres. Com os altos e magros e com os baixinhos e gordinhos. Com os sedentários e também com os atletas (ainda que em menor proporção). Com os feios e com os bonitos" *.

sábado, 22 de outubro de 2011

"Sorrir novamente", na Gazeta do Povo

Na edição de hoje da Gazeta do Povo, caderno Gaz+, saiu uma matéria bacana sobre "histórias de quem enfrentou uma barra, mas deu a volta por cima". Eu estou lá. Confiram aqui! :)


E aqui a entrevista que dei:

GP: Primeiro de tudo, conte, por favor, um pouco da sua história. Como você descobriu a doença e o que já passou, resumidamente, até hoje?
Eu: Descobri o câncer aos 12 anos de idade, em meados de 2001. Senti um “carocinho” em uma das costelas (do lado direito) e foi aí que tudo começou. Na época fiz uma cirurgia em que ela foi substituída por uma prótese e ficou tudo resolvido. Por 6 anos, fiz apenas exames de rotina e frequentei consultas periódicas. Foi em 2007 que enfrentei minha segunda cirurgia, agora na tíbia direita (foi realizado enxerto ósseo com a fíbula esquerda e com parte da crista ilíaca esquerda), e tive o primeiro contato com a quimioterapia (foram 8 ciclos, 4 antes e 4 depois da cirurgia, feitos a cada 21 dias). Depois disso, já fiz outras 5 cirurgias, totalizando 7, e já passei por quimioterapia mais duas vezes. A terceira cirurgia foi no pulmão direito, em junho de 2009. A quarta foi próxima ao rim esquerdo, em dezembro de 2009. A quinta foi no pulmão esquerdo, em outubro de 2010. A sexta foi no fêmur esquerdo (também foi substituído por prótese), em março deste ano (nesta ocasião também foi removido um tumor na coxa direita). A sétima foi em abril deste ano, e foi feita nefrectomia (remoção) total do rim direito. Já as quimioterapias foram realizadas entre fevereiro e abril de 2010, e depois entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2011. A grande maioria do tratamento foi realizada através do Hospital Antônio Prudente, em Londrina-PR – com exceção da cirurgia de tíbia (feita no HU - Hospital Universitário, Londrina-PR) e dos segundos e terceiros ciclos de quimioterapia (feitos no ambulatório de oncologia do Hospital da Providência, em Apucarana-PR).

GP: E como está a situação atualmente?
Eu: Agora, comecei pela quarta vez ciclos de quimioterapia para tratar outras duas lesões do osteossarcoma: uma no osso sacro e outra em uma costela do lado esquerdo. Assim que terminar o tratamento, serão realizadas mais duas cirurgias para retirada desses tumores. Na última sexta-feira (14), em conversa com meu oncologista, ele levantou a possibilidade de iniciar um tratamento no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, onde participaria, assim como outros pacientes, de um estudo. Isso ainda é uma hipótese que está sendo analisada, pois não depende de mim, nem do meu médico, mas sim de obedecer aos critérios de tal pesquisa.

GP: Você ficou sabendo da sua doença muito nova e enfrentou muitos percalços ao longo dos anos, todas as cirurgias e tratamentos... Como você fez para que isso não te desanimasse completamente e fizesse desistir?
Eu: Na primeira vez eu nem fazia ideia da dimensão do problema. Fui descobrir conforme deixei a infância. O baque mesmo aconteceu em 2007: eu tinha 18 anos, estava no segundo ano da faculdade, morando fora, trabalhando, etc. O primeiro pensamento foi parecido com esse, de desistir, mas só o primeiro. Na época, órfã de pai há pouco mais de um ano (também por causa do câncer), quem me deu toda a estrutura foi minha mãe. Lembro bem do que ela me disse quando recebi o diagnóstico da recidiva: “Chorar não resolve” – mesmo quando a única vontade dela também era chorar. A minha força e vontade de continuar é inspirada nela, sempre, a cada vez que eu penso em desistir. A fase mais delicada foi essa, até porque a cirurgia de tíbia exigiu que eu ficasse mais de um ano usando muletas, e o tratamento quimioterápico também foi longo (por volta de 6 meses). Mas na época eu tinha um namorado que esteve ao meu lado por todo esse processo; e isso também me ajudou muito na recuperação.

GP: Que elementos, como família, amigos, etc, você acha que foram essenciais para que você continuasse essa luta?
Eu: Assim como minha mãe, que além de inspiração, é família, amiga, acompanhante assídua de consultas, internações, quimioterapias, etc., tenho e tive algumas pessoas essenciais na minha vida. Aquelas que, mesmo longe às vezes, conseguem te colocar um sorriso no rosto – sorriso que faltou naquele dia, e que te impulsiona para acordar no dia seguinte. Enquanto eu morava em Guarapuava pra fazer faculdade, por exemplo, longe da minha mãe, quem “cuidava” de mim eram meus amigos, e “vizinhos-amigos”. Em 2008, eu morei sozinha em uma kitnet, e usei muletas durante todo o ano. Eram eles quem faziam minhas compras de mercado, estendiam minhas roupas no varal, carregavam a sombrinha pra ir à Universidade (que ficava à uma quadra) em dias de chuva e, mais do que tudo isso, eram eles quem me traziam a alegria de cada dia.

GP: Você chegou a fazer algum tratamento psicológico?
Eu: Não. Meu tratamento psicológico sempre foi fazer o que eu gosto, ter boas companhias, estudar, dar sequência na minha vida, enfim. O câncer é uma doença que abala, que muda as formas de pensar, que traz sofrimento, sim, mas isso nunca me abateu a ponto de sentir necessidade de um tratamento paralelo. 

GP: Mesmo ainda enfrentando a doença, você acha que, de alguma forma, conseguiu superá-la?
Eu: A luta é diária. Não posso dar por vencida, nem pra mim, nem pra doença. A gente vai brigando e vamos ver quem ganha. De qualquer forma, posso sim afirmar que em muitos aspectos ela foi superada, por exemplo com relação à vaidade (queda de cabelo, aparência abatida) e principalmente à própria aceitação da doença, no sentido de que não adianta lamentar, é preciso, sim, erguer a cabeça e seguir firme na luta.

GP: Apesar de tudo, você sempre tentou levar uma vida normal? Sair com os amigos, viajar, por exemplo.
Eu: Com certeza. O câncer nunca foi e nunca vai ser um impedimento pra mim, em nada. Nunca deixei de fazer nada por causa dele. É claro que em momentos de recuperação cirúrgica ou pós-quimioterapia existem algumas limitações, mas são momentos. E eles são minoria na minha vida. Em todos os outros que me sinto bem, estou vivendo, e aproveitando cada minuto do meu tempo. Prova disso é estar formada e cursando mestrado aos 22 anos, feito que não muitos conseguem, mesmo resvalando saúde. Sair com os amigos também é uma atividade constante, acho que até exagerada (risos). Viagens são costumeiras, na medida do possível. Durante a faculdade participei de congressos (Blumenau, Caxias do Sul, Curitiba, etc), fui à Brasília pelo Projeto Rondon, à praia também. O que é preciso ter claro é que um paciente oncológico não vive no hospital, a vida dele não se resume ao tratamento.

GP: E o blog, como e quando surgiu?
Eu: O blog surgiu há pouco mais de 2 meses. É algo que já tinha me passado pela cabeça em fazer, mas nunca de maneira tão latente. Um dia, num estalo, senti que precisava compartilhar minha história. Foi após a notícia das duas últimas lesões, às quais estou tratando. Percebi que os fatos estavam se acumulando e senti necessidade de contar um pouco disso, ao mesmo tempo em que arquivava. Na verdade, foi uma forma de extravasar os sentimentos e angústias, além de confortar outros pacientes ou familiares sobre não só a possibilidade, mas a importância de se levar uma vida normal, mesmo tendo câncer. Também posso dizer que foi uma maneira de me sentir útil, e, de alguma forma, estar buscando possibilidades para a minha cura. Uma maneira de parar de “caranguejar”, como o próprio nome do blog sugere.

GP: Imagino que você tenha conhecido várias pessoas através dele. Como é essa relação com os leitores?
Eu: A minha relação com as pessoas, depois do blog, só veio a se estreitar. Percebi que muitas que eu já conhecia, por exemplo, se sentiram à vontade em se expressar, dizer o que pensam. É nesse movimento, nessa interação, que eu venho conseguindo “ler” o lado mais bonito de tais pessoas. Sem falar naquelas que me procuram, me mandam e-mail, comentam, parabenizam, sem mesmo me conhecerem. Aliás, elas já me conhecem um pouquinho, através dos meus relatos, eu é que fico na curiosidade (risos). Mas estou achando ótimo receber tantas mensagens de apoio e de carinho de perto e de longe (Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul, além de outras cidades do Paraná, etc). 

GP: E quando você vê alguém passando por uma situação parecida, o que você diz pra pessoa, já que você convive com isso há tanto tempo?
Eu: Na verdade eu tento passar com o meu próprio modo de viver, a ideia e a certeza de que é possível se manter confiante, ter esperança e fé sempre. Procuro sorrir, não há muito o que se dizer nestes momentos, a não ser que a pessoa me peça ou me pergunte. Às vezes é melhor conversar sobre o clima ou sobre a cor do esmalte, ao invés de procurar respostas. As respostas vêm depois, quando a gente menos espera. Quando estou esperando por uma consulta, por exemplo, o assunto que menos gosto de falar é sobre a doença. E no meu dia-a-dia também... Não que eu tenha problema em falar, pelo contrário, falo abertamente, mas não é algo que precisa estar sempre sendo lembrado. Distrair e viver faz muito bem também.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Além-mar

Creio que a maioria dos que leem aqui são pessoas que me conhecem. Mesmo elas fazem comentários sobre a imprevisibilidade dos textos. Isso me deixa envaidecida, de certo modo, porque realmente são frases que fluem, dando origem a cada post. Mas este de hoje é especialmente para aqueles que não me conhecem pessoalmente, que também são muitos. Eu não sei exatamente qual a imagem que esses leitores fazem de mim. Apesar das fotos, os textos dizem muito mais, acho eu. Por tal motivo queria falar um pouco sobre isso.

Embora este seja um espaço criado para relatar e discutir temas relacionados ao câncer e, portanto, eu escreva apenas sobre aspectos que dizem respeito à doença, tal assunto não é (e nem deveria ser) parte principal do meu dia-a-dia. O que convém afirmar é que realmente não vejo problemas em falar sobre, prova disso vocês já tem. Mas é certo que prefiro conversar e escrever sobre outras coisas. Afinal, ficar falando de doença o tempo todo é coisa de quem não tem perspectiva - mais uma opinião minha, constatem!

Inclusive, como já brevemente comentei em outro texto, possuo uma vida além e apesar do câncer. Vida esta que anda me atasanando (no bom sentido) bastante, especialmente nos últimos dias. Esse também é um fator que me limita a postar com mais frequência aqui (e já aproveito para me desculpar por isto). Tento, enfim, aliar e adequar o tratamento aos outros inúmeros afazeres de qualquer vivente: também estudo, também passeio, também falo bobagens, também namoro, também cozinho, também leio (queria ler mais!), também apresento seminários em aula, em congressos, também faço artigos, resenhas (Chega! hehehe). MAS, tudo se encaixa no final.

Eu sei que talvez ainda não tenha conseguido demonstrar tudo de quem eu sou (e principalmente que não me resumo a histórias sobre câncer), mas acho que avancei um pouco mais. As adjacências deixo para os capítulos posteriores.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Espaço ao leitor

Leitores, 
a partir de hoje fica aberto este espaço para sugestões de pautas. Já pude perceber que algumas pessoas têm dúvidas que nem me passam pela cabeça, além de curiosidades sobre tratamento, recuperação (é claro que em termos de relato de experiência, já que não sou médica e não estou habilitada a dar explicações de cunho científico). Enfim, façam aqui, pelo e-mail (suellengvieira@hotmail.com), pelo Facebook ou pelo Twitter sua pergunta, ou deem sua ideia de tema. Serão todas muito bem vindas e, na medida do possível, acatadas.
Acredito que essa interação será boa tanto pra mim quanto pra quem se interessa pelos meus textos.
Criatividade! Continuem lendo...
Grande abraço,
Suellen.

Antes de partir

Tem um filme de 2007, homônimo do título deste texto, o qual conta a história de dois pacientes com câncer em estado irreversível, que decidem aproveitar seus últimos meses da forma que melhor entendem. Apesar de renomados atores e diretor, o filme não é dos meus preferidos, mas não sei porque lembrei dele, talvez por abordar assuntos dos quais já falei aqui antes: a morte e sua aceitação, além da amizade.

Eu talvez faria o mesmo que os personagens: viajaria, viajaria, viajaria... Se eu pudesse, assim como eles, fazer uma lista, com certeza ali estariam coisas que todo mundo deseja: ser bem sucedida profissionalmente, conquistar o mundo em viagens, ter um grande amor, afinal, quem não quer? Mas, mais do que isso, o que eu priorizaria em minha lista (ainda que não seja possível "dar um check" em todos os itens) seria o "retoque" em fatos já ocorridos.

É claro que há quem diga que passado é passado, e o que importa é viver agora e daqui pra frente. Sim, em termos eu concordo; é preciso valorizar o presente, não esquecendo o que aprendeu com os erros. Mas quando você pensa em morte, pensa em "consertar" ou deixar tudo por aqui da forma como você considera ideal, ou seja, resolver tudo o que ficou incerto. Acho injusto banalizar o que já passou, porque mesmo tendo ficado pra trás, ainda faz parte de você, das suas memórias.

Penso que meu maior desejo antes de partir, mais do que qualquer satisfação futura, seja reconquistar confianças que perdi, ter os perdões que não tive, me sentir "em dia" com a minha própria vida, com minhas próprias vivências. É certo que esse seja um desejo deveras inconsistente (ou não). Por outro lado, depende muito mais de mim, rever, ajustar e superar fatos do passado. De uma forma ou de outra, é ainda um desejo complexo.

A sensação que dá é que algumas cenas da vida são como aquelas que a gente não entende nos filmes, mas mesmo assim continua assistindo. Os capítulos vão passando, passando, e quando chega ao final, aquela cena ainda é uma lacuna. A diferença é que no filme você pode retornar e buscar uma resposta. Infelizmente, na vida real, você precisa encontrar métodos de responder às suas próprias dúvidas antes que o fim chegue. Talvez o meu maior desejo seja a oportunidade de ter acesso a cenas extras: lá você pode não só encontrar as explicações, mas também rir com elas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Entrevista

Sempre estive acostumada a entrevistar, formular perguntas e construir o texto baseada nas respostas. Há poucos dias, deixei meu papel de jornalista e passei para o outro lado, concedendo uma entrevista à Revista Visual, de Guarapuava. Embora continue preferindo o primeiro lado, confesso ter achado uma experiência significativa. A entrevista, na íntegra, eu mostro pra vocês agora.

RV: Por que você resolveu criar o Blog?
Eu: Nunca tive problemas em falar sobre a minha doença. Em conversas informais, contava o que já tinha passado, sempre percebendo a reação admirada das pessoas. A iniciativa do blog veio pela necessidade de colocar em prática algo que eu gosto tanto de fazer (que é escrever), já que mesmo depois de formada ainda não estava exercendo a profissão de jornalista, até por ter decidido seguir carreira acadêmica, partindo pro mestrado. Mas, mais do que isso, quis revelar de maneira mais ampla (ou para além das conversas informais) a minha história, que, na minha humilde opinião, já é bem vasta em curtos 22 anos de vida. Achei que seria válido para que outras pessoas conseguissem enxergar algumas coisas como eu enxergo.

RV: Se inspirou em alguém ou em alguma história para começar a relatar sua experiência de vida?
Eu: Na verdade, sempre pensei em ter um blog, não necessariamente contando minha história, mas onde eu pudesse me expressar de alguma forma. Não sei porque nunca dei corpo a essa ideia. Só agora, depois de tantas recidivas do câncer, percebi o quanto eu podia compartilhar com os outros.

RV: Eu sei que o Blog está sendo bastante acessado. Ele tem ajudado você em alguma coisa? Como?
Eu: Sinceramente, eu não imaginava que seriam tantos acessos em tão pouco tempo. Não imaginava, tampouco, que receberia mensagens das mais diversas pessoas, desde aquelas que há tempos não vejo, às que nem conheço. E com certeza isso me ajuda; é muito bom saber que tem tanta gente torcendo por mim e comigo. Não só escrever me faz bem, mas ser lida e compreendida, mais ainda.

RV: No Blog, você relata boa parte da sua história, desde quando iniciou o tratamento. Mas, poderia contar resumidamente, como descobriu o câncer, quantas intervenções cirúrgicas e tratamentos já fez?
Eu: Descobri o câncer em 2001, aos 12 anos de idade. Um osteossarcoma em uma das costelas do lado direito. Na época, apenas a cirurgia resolveu o problema, sendo necessário colocar uma prótese. Passei 6 anos fazendo consultas e exames de rotina, sem nenhuma surpresa maior. Foi em 2007 que fiz minha segunda cirurgia, agora na tíbia direita. Foi feito um enxerto ósseo utilizando a fíbula esquerda e parte da crista ilíaca esquerda. Nesse momento, encarei as primeiras sessões de quimioterapia: foram 8, 4 antes e 4 depois da cirurgia, uma a cada 21 dias. A terceira e a quarta cirurgias foram em 2009, no pulmão direito e no rim esquerdo, respectivamente. Em 2010, fiz mais 4 sessões de quimioterapia (3 dias na semana, a cada 21 dias) e operei o pulmão esquerdo (quinta cirurgia). Ainda no final de 2010, iniciei mais sessões de quimioterapia (também de 3 dias na semana, a cada 21 dias), que duraram até 2011, ano em que também substituí o fêmur esquerdo por uma prótese, e retirei o rim direito (sexta e sétima cirurgias). Nesta semana, iniciei pela quarta vez novas sessões de quimioterapia. No momento não estou 100%, mas consigo responder a estas questões, o que é um bom sinal (risos).

RV: Como você vê o câncer hoje? (claro que tem toda a parte do tratamento e afins), mas, você acha que o câncer trouxe algo positivo na sua vida?
Eu: Olha, é difícil me caracterizar antes e depois do câncer. Na primeira vez, eu era apenas uma criança de 12 anos e, infelizmente, convivi com ele durante todo esse tempo. Cresci “acostumada” a ele. Mas é claro que eu sou o que eu sou também por causa dele. Não sei imaginar como eu seria se não tivesse câncer. Mas eu sei como eu sou: e eu sou uma pessoa que valoriza cada momentozinho da vida, cada conversa com um amigo, cada conquista, cada abraço, porque sei a falta que cada uma destas coisas faz quando a vida parece não ter mais sentido. Mas é aí que está o sentido dela!

RV: Como é o apoio que você está recebendo através do Blog?
Eu: É incrível a forma como as pessoas “respondem” aos meus textos. Talvez por eu estar de certa forma “acostumada” com a minha história, fico até impressionada com a maneira que as pessoas a recebem. Eu sei que ela não é fácil, mas pra mim são apenas fatos, os quais eu preciso encarar.

RV: Como você tem divulgado o Blog? Ele tem ajudado pessoas que também têm câncer? Você recebeu algum tipo de comentário nesse sentido?
Eu: Eu comecei divulgando o blog pela internet mesmo, através do Facebook, Twitter, e outras redes. Mas muitas pessoas me abordaram pessoalmente, parabenizando. Recebo comentários dos mais diversos meios. E, muitos deles, me emocionam de verdade, de maneira que eu nem imaginaria. Muitos falam sobre casos de câncer na família, mas a maioria deles sobre como os meus textos ajudaram na maneira como a pessoa (que não tem câncer) encara a vida. E é isso que eu acho legal: dar força para outros pacientes como eu, mas também e principalmente “ensinar” um pouquinho pra quem quer que leia. Até porque não é necessário ter câncer para saber viver.

RV: Como você acha que iniciativas como a sua, de compartilhar sua experiência, de falar abertamente sobre a doença, ajudam no tratamento, ou em como encarar a mesma?
Eu: Eu sempre falo que o tratamento de quem tem câncer depende em grande parte do psicológico, de como a pessoa decide encarar aquilo. Não pode se entregar, desanimar. Eu acho que, com a minha iniciativa, outros pacientes podem se sentir estimulados a continuar a luta, podem ver que é possível e que a hora de morrer ainda não é agora. Pra mim, acho que as mensagens de incentivo e de carinho só têm a contribuir e a agregar à minha reserva de força. Eu luto não é só por mim, mas por todos os que gostam de mim, torcem por mim. Sem essas pessoas, não haveria motivo pra eu querer viver.

A matéria publicada na Revista, redigida pela jornalista Glarin Bif, pode ser conferida aqui.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pauta quente

Apesar de não querer transformar este blog num diário - em que eu conte cada detalhe do meu dia-a-dia, conforme eles acontecem -, vou hoje, pela primeira vez, escrever um texto factual. Como diríamos nós, jornalistas, pauta quente. É que desde quando comecei a escrever aqui, não havia passado por tratamento ou tido uma experiência mais atual pra contar.

Nos últimos dias, comecei pela quarta vez uma nova fase de quimioterapia: o primeiro ciclo foi dividido em uma aplicação na segunda-feira passada e outra na segunda-feira desta semana. Segundo o médico, havia a possibilidade de estas drogas utilizadas não provocarem efeitos colaterais tão graves. Ele disse que não garantia nada, mas que talvez funcionasse como um 'cházinho'. Hoje, em consulta, brinquei dizendo que ele esqueceu de colocar açúcar no chá (risos). Pois é, os efeitos colaterais vieram, sim, e vieram com força.

Na semana passada, nada tão insuportável. Até fui às aulas, apesar de sentindo um certo zunido nos ouvidos, o que acabou se transformando em incômoda dor de cabeça até o fim de semana. Mas, no fim das contas, foi melhor ter ido, pra distrair, fazer com que o tempo passasse rápido, me ocupando com coisas das quais gosto. Quem dera tivesse ficado apenas na dor de cabeça!

Depois da aplicação desta segunda, não teve jeito: tive uma terça até agradável e estava preparada pra ir a Maringá na manhã seguinte, o que percebi que não faria logo quando acordei. Tentei resistir, indo ao banheiro, escovando os dentes, até sentei na cama pra pensar "Será que vou? Será que fico?". Mas eu me conheço e definitivamente sei quando não estou bem. Foi aí que decidi ficar, e decidi pelo certo.

A quarta-feira foi um daqueles "piores dias da vida". Nem vi a luz do Sol, acho que dormi umas 20 horas (e não é um sono gostoso não, pelo contrário, é sono de quem não aguenta parar em pé). Comi só por questão de sobrevivência, porque fome não existe nesses momentos. Ao lado, apenas uma garrafa d´água e o celular. A mãe ligando pra ver se eu estava viva a todo momento (eu a "liberei" pra ir trabalhar pela manhã, me arrependendo de tal decisão no decorrer do dia). Quando ela chegou, no fim da tarde, estava eu embaixo das cobertas e com frio, em pleno calorão do norte do Paraná. O termômetro revelou o motivo de tanto mal-estar. "Já pro banho" - disse ela. Eu tive que obedecer, porque mãe é mãe.

Medicada, a febre foi controlada, ainda se rebelando por alguns momentos. O mal-estar não foi embora de um todo, mas diminuiu. Além dele, ressecamento da mucosa nasal e bucal. Vocês não têm noção do que é isso, é muito ruim (por esse efeito eu ainda não tinha passado). Também surgiram umas alergias na região do pescoço. Com tantos imprevistos, decidi consultar o médico hoje, pra ele me medicar e eu sonhar com um fim de semana mais agradável. Agora sim, já me sinto disposta pra fazer algumas coisas, inclusive escrever aqui.

Muitas pessoas perguntam o que eu sinto quando faço quimioterapia. Desta vez foi isso, mas em outras foram reações diferentes. Enfim, este post foi pra tentar transmitir um pouquinho dessa sensação que, até que enfim, está passando, de novo (e por enquanto). 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cigana, indiana, muçulmana... ou estilo??

Em uma ida a Cianorte, fui chamada de indiana :D
Já perdi as contas de quantas vezes, andando pelas ruas ou outros lugares públicos, flagrei pessoas me olhando. Olhares curiosos, intrigados, que fazem transparecer pontos de interrogação. Eu sei, sair por aí com lenços coloridos na cabeça não é algo totalmente normal. Não pra uma pessoa normal como eu. E é isso que os 'olhadores' se perguntam - imagino eu - "Por que ela usa isso? Será que é estilo?".

Acho que até passa pela cabeça de alguns que posso ser uma paciente oncológica em fase de tratamento quimioterápico (fato!), mas também estou certa de que logo essa ideia se esvaece. Para outros, isso nem entra em cogitação, e é daí que surgem algumas ousadas perguntas, como: "Você é de alguma religião diferente?" ou comentários como "Que lindo seu turbante" e "Oi, indiana". Hehehe! Não é mentira, algumas pessoas já presenciaram isto comigo.

Não é algo que me incomoda ou me deixa brava, de maneira alguma. Acho engraçado ganhar esse tipo de "apelidos", pois percebo o quão criativa é a mente das pessoas, que desviam suas impressões do que parece ser mais óbvio (pelo menos pra mim).

Uma coisa eu digo: prefiro que perguntem o que eu tenho, matem sua curiosidade, tirem sua dúvida, do que me olhem como se eu fosse um ser estranho. Porque, voltando ao que eu disse no início, é incrível como um acessório qualquer pode atrair tantos olhares. Não sei se eu gosto de parecer diferente, mas de qualquer forma isso é outra coisa com a qual eu também já me acostumei.

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um post da Rê

Este texto que segue foi escrito pela minha GRANDE amiga, também jornalista, Renata Caleffi. Nem preciso comentar, leiam e comprovem que quem tem um amigo tem um tesouro. Rê, amo você, gata!

2009 - Uma das aventuras como repórteres.
Eu podia cá contar sobre o dia em que nós duas nos formamos (um dos mais felizes), ou então do dia em que a Su me abandonou em uma festa (um dos mais revoltosos), ainda podia contar o dia em que comemos feijão e arroz às 23h e paramos em um show sertanejo (um dos mais bizarros), quem sabe outro em que paramos em um rally (emocionanteee). Tiveram ainda alguns com tereré, cerveja, estúdio de tv, viagens... Mas, em decorrência deste ser um blog de motivação, me detenho a contar sobre algumas aventuras que, por causa do câncer, tivemos.

Nunca fui amiga antes dele, não conheci e não posso dizer: “Ah, ela era outra pessoa antes disso”. E não foi antes do da costela, o primeiro deles, mas antes do da perna, nunca te conheci como depois da cirurgia, apesar de estar há dois anos estudando na mesma sala. Eu posso falar, de certo modo, que ele trouxe uma amiga pra perto de mim, certo?! E talvez tenha sido ele que nos aproximou muito mais.

A (re)conheci como amiga a partir das muletas – essas mesmo que hoje já não gosta mais. Foi em passagens pela quitinete azul, pra ajudar a Cris nos dias de chuva, com guarda-chuvas, muletas, bolsas e parafernálias que vi, com olhos de amiga, ela. Nesse mesmo tempo, as incríveis aventuras de duas malucas (e malucas mesmo), começaram. Já andamos de moto com você de muletas, eu sem capacete, e sua mãe, desesperada não acreditando no que você tinha feito. A cirurgia recém feita não foi impecilho para te levar pra cima e pra baixo em cima da ‘moto envenenada’ que não chegava a 60km por hora, mas convenhamos, era uma maluquice tremenda. Fomos cobrir vestibular, divulgar Unicentro pra cima e pra baixo a bordo dela, muletas penduradas, você agarrada na minha cintura e eu ainda não sei como conseguíamos.

Vi colocar um salto depois da cirurgia, os cabelos caírem, voltarem, serem cortados, brotarem na velocidade da luz. Dos dias mais tristes incluem-se eles serem cortados, sua mãe ligar para avisar que não era apenas uma biópsia, como você imaginava, e a notícia de longe que aparecia um tumor no rim. Não devo ter chorado na sua frente em nenhuma dessas vezes, mas as lágrimas caíram ao mesmo tempo em que eu tentava te falar qualquer coisa de motivação. Mas não é disso que eu quero falar.

Quero voltar para a moto envenenada, e dizer que a confiança que você depositava em mim, ao embarcar nela, ainda sinto muitas vezes, embora a distância. Embarcar na vida de uma pessoa é muito fácil, como diria nosso amigo João, “o ônibus vive passando, entra quem souber embarcar e você pode descer em qualquer ponto, é só puxar a cordinha”. Ao embarcar na minha vida, não foi a Suellen que tem câncer. Ele, (o câncer) foi quem me aproximou, mas nunca foi quem prevaleceu. Se amiga a gente reconhece de longe, talvez eu não tenha prestado bem atenção nesse dia, mas com certeza, reconheci mais tarde.

“Não tenha dó. Eu tenho é sorte, tive tantas cirurgias e tô aqui, viva. E você?”.
Levo isso em cada queda, em cada impecilho pelo caminho. Você me ensinou a (re)viver, e disso eu não esqueço jamais. De você, eu não esqueço jamais!

Su, Rê, muletas e a cervejada - Jun/2008.

domingo, 11 de setembro de 2011

Presente de aniversário

Hoje não vou falar de mim. Mas vou falar de alguém que já chorou mais por mim do que eu. Também já sorriu, orou, sofreu, torceu, preocupou-se, lutou, esbravejou, angustiou-se mais por mim do que eu. Ela já viveu e já amou mais que eu, e por isso me ensina a viver e a amar diariamente. É minha amiga, é minha companheira de papo furado, de desabafo, de momentos-revolta, de incertezas. É meu apoio quando eu fico triste, é minha confidente quando estou feliz. É minha fonte de carinho e, também, meu foz de inseguranças. Toda minha força é inspirada nela. E assim somos um canal único de energia: eu tiro dela, mas também forneço. Nessa troca, exercemos da forma mais plena os papéis de mãe e filha.

Mãe, eu e minha peruca, na formatura da minha irmã - Fev/2008.
Mãe, neste 12 de setembro, dia do seu aniversário, eu quero (re)dizer sobre como me sinto em ser sua filha. Talvez nunca tenha dito, com essas palavras que aqui vão se tecendo. Talvez nunca tenha escrito, também. Mas sei que do meu sentimento você não tem dúvida, ou melhor, o meu sentimento você conhece bem. Eu também te conheço bem, de uma forma bonita. Triste e quiçá dolorosa, é verdade, mas muito bonita. Quanto mais conheço, mais admiro, me espelho, defendo e me apaixono. Porque, ainda que mais ninguém saiba, eu sei que tenho a melhor mãe do mundo. E embora (quase) todas as mães sejam as melhores pra seus filhos, você é a MINHA melhor mãe do mundo, e eu tenho orgulho e prazer em falar isso, aqui, a todos que também leem esta "carta".

É até difícil traduzir verbalmente a complexidade e a grandeza do meu amor por você. Mas, ao mesmo tempo, sei que se fosse o contrário seria ainda "pior", porque amor de mãe não se mensura, não se calcula, não se entende, não se explica, apenas se sente. E eu sinto. Sinto o seu todos os dias, a cada manhã, a cada bom dia ou boa noite, a cada cafézinho na sala comentando a novela ou o jornal, a cada comidinha especial de mãe, a cada beijo, a cada "Se cuida", a cada bronca (essas quase não preciso, hehe). Enfim, desde o menor gesto àqueles que te fazem essa mulher guerreira, todos me provam o seu amor, e todos me fazem te amar mais, e sempre.

Seja no seu aniversário, seja no dia das Mães, seja no Natal, na Páscoa, ou em qualquer outra ocasião, o que eu quero pra você é sempre o mesmo presente. Não é um presente que eu possa comprar e te dar, mas é um presente que eu posso desejar, e desejar com todas as minhas forças pra que Deus te dê. Esse presente é VIDA: que ela seja como é, mas com mais saúde, mais paz, mais e mais força, sempre. Pra poder lutar, pra poder vencer e pra poder cuidar dessa sua filhinha que te ama muito. Feliz aniversário, e obrigada!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Como se fosse a primeira vez

Tem aquele papo de artista que diz que a cada vez que se sobe no palco é como se fosse a primeira, porque a emoção é sempre diferente. Tá aí uma boa metáfora para cada nova lesão que aparece em mim. Não pensem que depois da segunda ou terceira, acostuma-se com a ideia; não é verdade. Acho que a diferença é a maturidade que se cria, a maneira de lidar com a situação... Mas, na realidade, nunca é fácil e, pelo menos sob o prisma psicológico, os dias até que o problema não seja resolvido são os mais duros. Pois as caraminholas ficam tentando tomar conta da cabeça, e é bem difícil controlar estas inquietações.

Guarapuava/2008 - Saudade delas (menos das muletas).
Eu já descrevi, em outra ocasião, parte de como se deram os fatos por volta de 2001 e 2007. Volto, agora, a me utilizar do recurso cronológico para narrar os acontecimentos posteriores - ou melhor, uma parcela deles. O ano de 2008 foi, integralmente, de recuperação (por conta do enxerto ósseo na tíbia, exigindo que eu usasse muletas). Ao mesmo tempo, foi também um ano muito produtivo em relação aos meus trabalhos pessoais e, o melhor de tudo, livre de novos tumores. Hoje em dia vejo quanta vantagem tal ano teve, já que 2009, 2010 e 2011 não passaram em branco no aspecto de tratamentos (tanto cirúrgico quanto sistêmico).

Iaciara(GO)/2009 - Comunidade Quilombola (Projeto Rondon).
Em junho de 2009 passei pela minha terceira cirurgia, desta vez em um dos pulmões - o direito. De fato, câncer no pulmão era (naquele momento) algo meio assustador. Era diferente dos anteriores, portanto causava um novo medo. Estava com uma viagem marcada para as férias de julho, e não queria perder. Isso não aconteceu, pois antes do início do mês eu já estava recuperada e com as malas prontas pra ir pro sertão de Goiás, numa cidade chamada Iaciara, onde participei do Projeto Rondon (um projeto coordenado pelo Ministério da Defesa, e realizado em parceria com as IES brasileiras). Hoje vejo que isso, além de ter sido uma "loucura" da minha parte, foi também prova de que NADA pode ser deixado de lado quando se tem um propósito. Com os devidos cuidados sendo tomados, a indicação é viver - sem contra-indicações.

E foi isso que fiz até me deparar com a quarta cirurgia, no rim esquerdo. Esta, em dezembro de 2009. Mais especificamente, 22 de dezembro, o que fez com que eu passasse a CEIA de NATAL internada. Sacanagem, né? Já tinha passado dia das crianças e aniversário, mas Ceia de Natal? Foi péssimo. Tive que me contentar em assistir Shrek Especial de Natal pela TV, enquanto todos se deliciavam com perus e festejavam ao som de Dingobel. Indignação à parte, no dia 25 tive alta e fiquei feliz, muito feliz. No dia seguinte lembro ter participado, precocemente, de um churrasco com amigos - ainda com as devidas cautelas, não me privo dos bons momentos, não me imponho contra-indicações. O fim do ano chegou e eu, ainda com os pontos da cirurgia, pude, desta vez, me deliciar com o pernil do Reveillon. =)

2010 - Colação de grau (Jornalismo 2006/2009).
2010 deu boas vindas e o próximo passo era a quimioterapia, já pela segunda vez. Mas ela pôde esperar que passasse a minha formatura - momento tão importante pra mim, e do qual eu não abriria mão. Dia 19 de fevereiro: colação de grau; dia 20 de fevereiro: festejos; dia 21 de fevereiro: viagem Guarapuava-Apucarana; dia 22 de fevereiro: quimioterapia. Belo contraste! Passados dois meses de tratamento e os cabelos (que já tinham crescido até o ombro) novamente "derrubados", a próxima missão era passar na seleção de mestrado. Ao mesmo tempo em que estudava para as provas e participava das entrevistas, descobri um quinto tumor: no pulmão esquerdo. Cirurgia realizada em outubro de 2010 e, concomitantemente, mais uma etapa profissional vencida. Meu presente de aniversário, nesse novembro, foi a vaga conquistada e novas dores, agora no fêmur esquerdo. Além dessa lesão, ainda foi descoberta uma outra, no rim direito. Exatamente assim, sem tempo pra pensar. Em dezembro já estava começando, pela terceira vez, novas sessões de quimioterapia, as quais duraram até o início das aulas do mestrado, em fevereiro de 2011.

Em março de 2011, fiz a sexta cirurgia, em que o fêmur esquerdo foi substituído por uma prótese e também foi retirado um tumor menor, na coxa direita. Tal cirurgia me fez reencontrar as amigas muletas - agora por um período mais curto: 4 meses. Ou seja, foi com elas que, no mês de abril, me internei para a sétima cirurgia, em que houve retirada integral do rim direito. Sim, agora só tenho um rim. Esse foi outro acontecimento que, de início, me assustou muito, mas, pelo menos até então, não tem me proporcionado nada de diferente. Ambas as cirurgias intercaladas com aulas, seminários, novos colegas, novos professores, novos conteúdos e, digo mais, todos esses "novos" têm sido minha salvação, meu refúgio, meu desvio de preocupação (claro que para outra preocupação: a dos artigos, dos autores e teorias incompreensíveis e, ao mesmo tempo, fascinantes). E é ainda nesse contexto de "produtividade" que pretendo encarar o tratamento que está por vir, e as duas novas cirurgias (a oitava e a nona). Aos que estão pasmos, eu digo uma coisa: não sei até quando eu aguento a guerra, mas enquanto eu não perder, a luta é garantida!
Califórnia/2011 - Duas palhaças que (também) alimentam minha saudade.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Filas: esperar faz parte

Mais uma vez com um gancho no texto anterior, falo agora sobre um momento que poucos imaginam, mas quem "sente na pele" com certeza dá importância: a eterna arte de esperar. Como se sabe, ninguém é único nos consultórios e, diga-se de passagem, o Hospital do Câncer tem estado cada vez mais cheio - ao menos é a impressão que tenho. Pelo que percebo, e também algum dos médicos já comentou comigo, os próprios estudantes de medicina têm receio de se especializar na área de oncologia, o que faz menor o número de profissionais capacitados, tornando desproporcional a relação pacientes/médico. Reitero, é a impressão que tenho. Enfim, nesse jogo de "é só aguardar" daqui, "é só aguardar" dali, você "perde" horas e horas, e mais horas (muitas mesmo) da sua vida, sentado num banco, olhando paredes, teto, chão, e outros pacientes.

Minha mãe que o diga - sempre comigo em todas as consultas, exames, internações, etc. É claro que, acostumadas, já temos nossos passatempos: ela com seu crochê, eu ora com minhas palavras cruzadas, ora com os xérox e livros sempre a tiracolo. Ali, cada uma ao seu modo, buscamos uma distração (e uma abstração). Porque muitas das vezes é interessante conversar com quem está ao lado, mas volta e meia é melhor permanecer em silêncio. Não quero ser mal compreendida; a questão é que muita gente passa uma energia negativa, outros têm assuntos, na minha opinião, bem intragáveis. Enfim, salvo casos específicos (pois é sempre bom aprender com os outros), opto por dispersar meu pensamento para outros ambientes - senão é impossível aguentar 4, 5, 6 horas por uma consulta sem ter uma crise de humor.

Justificada a demora, no mais, só tenho elogios ao Hospital do Câncer. Desde copeiras, faxineiras, secretárias, às enfermeiras, auxiliares de enfermagem, médicos e outros funcionários, todos sempre foram muito profissionais e ternos. Inclusive, algumas atitudes já me surpreenderam (e surpreendem). Tendo a possibilidade de comparar - já fiquei internada no HU, em Londrina, e no Hospital da Providência, em Apucarana -, sem titubear elejo o Hospital do Câncer, se não como o melhor (estruturalmente falando), com certeza o mais humano. Com poucas exceções, as pessoas que trabalham lá sabem com quem estão lidando, simplesmente porque veem, vivenciam. E, não há dúvidas, a pessoa que tiver a oportunidade de visitar, nem que seja uma única vez, de forma alguma vai sair de lá com o mesmo olhar sobre as coisas. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

(Eu sou) Apenas mais uma

Pra não cair na ordem cronológica dos fatos, vou abrir um parênteses aqui, retomando, de certa forma, o que vinha falando no texto anterior. Mais propriamente com relação ao momento em que se recebe a notícia que se está com câncer - como tal considero a ocasião de 2007. Eu não sei se todos conseguiram se imaginar em situação tão desconfortante, mas aos que conseguiram e aos que, assim como eu, já viveram-na, queria compartilhar um pouco de como essa questão evolui (ou, pelo menos, como evoluiu em mim).

Num primeiro momento, o egoísmo toma conta (o que ilustrei com a pergunta "Por que eu?"). Mas, depois, você inverte isso e diz: Por que não eu? Afinal, todos estamos sujeitos a ficar doentes e, inclusive, a ter câncer. É algo que está aí, posto, e o que não adianta é fugir. Além do mais, quando você começa a conhecer outros casos, percebe o quanto vale a pena lutar. Comparado a casos "piores", por exemplo, você enxerga a força que você tem, não só pra resistir, mas principalmente pra viver, e viver plenamente, como eu já havia dito. E, também, comparado a casos em que houve cura, você se agarra nessa esperança de também ficar curada um dia.

É claro que o assunto é bem delicado, e falar de cura é um risco. Não se deve ser hipócrita, ou melhor, ingênuo, a ponto de desconhecer o perigo de uma doença como o câncer. Mas o que eu gosto de deixar claro é que, com ou sem ele, eu consigo ser feliz, porque não preciso ficar pensando (e não fico) 24 horas por dia nisto. Fico mais preocupada em procurar fazer coisas que gosto, conversar com pessoas agradáveis, enfim, viver um dia após o outro, com tudo de melhor que eles têm. Até porque sei que, vira e mexe, hospital, médicos, enfermeiras e etc me aguardam pra uma "visitinha básica".

Do ponto inicial

Imagine-se sentado na cadeira de um consultório médico. Você foi ver o resultado de uns exames, porque há algum tempo estava sentindo um "carocinho" na costela. Ele diz que terá que fazer uma biópsia. Bom, você tem 12 anos e não entende muito bem o que está acontecendo. Tudo é novo, mas, de certa forma, até divertido, pois você tem o que contar para os amigos na escola: "Fiz uma tomografia", "Lá no centro cirúrgico tem um monte de luz e umas pessoas de roupa verde e touca de bichinho". Você entra e sai de um hospital, em que o letreiro na fachada avisa "Hospital do Câncer", mas sua mãe te diz que todo tipo de "carocinho" é tratado ali, e não há com que se preocupar. Com o resultado da biópsia, outra notícia: você terá que fazer uma cirurgia; tirar a costela e colocar no lugar uma prótese de "cimento". Pessoas começam a ir à sua casa, te desejando boa sorte e enchendo os olhos de lágrima, e você continua perdido.

1ª cirurgia - 09/10/2001: Do pouco que lembro, ficou a "melhor" parte. Era véspera de dia das crianças e eu ganhei um saco cheio de presentes da ONG Viver (Organização em prol de crianças e adolescentes em tratamento oncológico, em Londrina) - alguns dos quais tenho até hoje. Se bem que não me interessei muito por eles antes que pudesse me aliviar da dor. Compondo a parte ruim das lembranças: acordar na UTI e pedir pela mãe, além da sensação angustiante de falta de ar, incontrolável pra uma criança da minha idade. Curada, eu ainda não sabia que o que tinha tirado era um câncer. Mas continuei indo àquele hospital, e lendo aquele nome, até me tocar do que realmente estava acontecendo. Entre consultas e exames de rotina, passaram-se 5 anos sem surgir nenhuma recidiva - foi nesse entremeio que perdi meu pai. Os meus cabelos também continuavam intactos. Eu já estava no final do primeiro ano da graduação. Eis que surge outro "carocinho", agora na perna.

Como já fazia o trabalho de remissão (controle), foi rápida a decisão de fazer a segunda biópsia. Me despedi dos colegas de faculdade antes do fim das aulas, levei comigo a preocupação. Agora, mais "espertinha", sabia que não podia ser coisa boa. Novembro de 2006, fiz a tal biópsia, que me deixou 45 dias de muletas. No resultado, uma feliz notícia: o tumor não era maligno. Mas a tranquilidade duraria pouco... Passei o primeiro semestre de 2007 vendo aquele "caroço" aumentar, e sentido-o cada vez mais quente e dolorido. Férias de julho: aproveitei pra dar um pulo no hospital, e ver com o médico se realmente estava tudo ok. Só pela reação dele ao ver, percebi que definitivamente não estava. Mais exames, mais biópsia, só para cumprir procedimentos. O resultado já sabíamos...

De novo, imagine-se sentado na cadeira de um consultório médico. Você foi ver o resultado de uns exames, porque há algum tempo estava sentindo um "carocinho" na perna. Mas dessa vez foi diferente, bem diferente! - e eu considero como a primeira. Ele te diz: "O câncer voltou, você terá que fazer uma cirurgia pra retirar esse osso. No lugar, vou colocar osso da outra perna. A quimioterapia será feita tanto antes quanto depois". Imaginou? O primeiro pensamento: É mentira. O segundo: isso não pode estar acontecendo comigo. O terceiro: Por que eu? O quarto: Segunda tenho que voltar às aulas, e ao trabalho, o que vou fazer? O quinto: Aliás, se meu cabelo vai cair, não vou mais sair de casa. E assim por diante... Sem contar o choro, que cai adoidado. E a dor de cabeça. E a revolta. Mas isso é só no primeiro dia. E ao seu lado estão uma mãe maravilhosa e um (então) namorado mais maravilhoso ainda. Sem eles, acho que não escapava da depressão. Bem, aí o processo é longo. Dia após dia, o contato com novos sentimentos. Da temerosa primeira sessão de quimioterapia e queda dos longos cabelos à cirurgia.

2ª cirurgia - 09/11/2007: precedida de dois dias inteiros no pronto socorro do HU, já que minha vaga no quarto tinha sido transferida pra uma paciente inesperada, que havia sofrido fratura exposta no fêmur (esses dois dias merecem um texto à parte); e procedida por sofridos 13 meses de muletas. Desta vez, era véspera do meu aniversário. 19 anos e, de presente, duas pernas enfaixadas e latejando de dor. Ah, também ganhei chocolates e alguns outros mimos. Enfim, entre antes, durante e depois, com certeza essa foi a pior fase, mesmo com todo o apoio que recebi. Porque era ainda uma fase de aceitação, minha comigo mesma e com a doença. O fato de ter que ficar tanto tempo de muletas também não foi fácil. Mas quando do tratamento finalizado e minha liberação pra voltar às aulas, nem me importei com elas, nem com a careca. Queria mais era voltar logo! Deixar de lado os exercícios domiciliares com os quais tive que lidar nesse tempo de ausência, e "botar a mão na massa": gravar telejornais, produzir documentários, participar de Intercom's, de festas e cervejadas também. Tudo com as inseparáveis companheiras - as muletas e as amigas que eu levo pra vida toda, porque cuidaram de mim como se fossem irmãs. E são irmãs do coração!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Eu caranguejo. Tu caranguejas.

É quando você se cansa de caranguejar que começa a conhecer as pessoas e as coisas de forma que nem imaginaria, tanto positiva quanto negativamente. É quando você se expõe, abre o coração, entrega o que sente (e o que sentiu, muitas vezes calada, em tantos anos), que passa a ver na reação das pessoas o que elas pensam em relação a você. E você tem que estar preparada, tanto para os admirados olhares, quanto para os duvidosos, os que se perguntam "o que ela quis dizer?" ou "será que isso foi pra mim?".

Não é a primeira vez que vou mencionar minha sinceridade. Não gosto de "meias" palavras, nem de que finjam que me entenderam. Eu gosto de pratos limpos, gosto de clareza. A minha intenção nunca foi, nem aqui, nem quando falei em nenhuma outra parte, atacar alguém. Eu simplesmente estou sendo quem sou, dizendo o que penso, transmitindo o que sinto. Se alguém se sentiu atingido, foi porque achou que deveria se sentir como tal. Eu não posso controlar os efeitos do que eu digo e escrevo. Cada um é "tocado" de uma forma. E quero crer que a maioria tenha tido uma impressão boa de tudo que foi dito. Aliás, sou confiante nesse sentido.

A verdade, para muitos, dói. Dói no ouvido de quem ouve, nos olhos de quem lê, e no coração de quem sente. A verdade pode doer pra mim também, mas nem por isso vou fugir dela; sempre a encarei de frente. Aos fracos que não gostam de admití-la ou mesmo de sabê-la, não tenho mais nada a dizer. Aos que, mesmo não tendo a possibilidade de sentir exatamente o que o outro sente, tentam imaginar, pois têm a virtude da sensibilidade, só tenho a agradecer por todo o carinho e reconhecimento. Pra finalizar, um apelo: seja pra agradar aos ouvidos alheios ou não, saia da sua toca, não seja um caranguejo, assuma aquilo que você é!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cura do câncer

Já descobriram a cura do câncer, sabiam? Aliás, existem várias. Beber urina é uma delas. Consultar um "médico" que interrompe a sua hereditariedade, fazendo com que você deixe de apresentar os mesmos "problemas" dos seus antepassados é outra. Beber chá de mato de fundo de quintal também cura. Argila, lactobacilos vivos, babosa, bicarbonato de sódio, entre tantos outros... todos tratamentos milagrosos. Tudo depende da sua fé, é simples! Acontece que existe uma linha tênue entre presença de fé e ausência de inteligência.

Há quem diga que a pessoa que tem câncer atrai aquilo com seus pensamentos, e precisa tratar a alma. Outros julgam sua vontade de cura, e colocam em cheque sua fé. Bem, apesar de não ter que provar nada a ninguém, muito menos sobre minha fé, este é mais um momento-revolta que lhes apresento. Se eu tivesse tomado/feito tudo que já me ofereceram/indicaram em 10 anos, talvez já tivesse morrido de intoxicação ou algo do tipo. “Fazer mal não faz”: esse é o argumento comumemente utilizado.

Baseada em texto que li sobre essa questão, é que digo: o fato de ser natural não isenta a medicação de riscos, muito pelo contrário. Muitas ervas são tóxicas para o fígado, por exemplo. E como muitos desses medicamentos não passaram pelo crivo científico, os possíveis danos são desconhecidos. Maconha e cocaína também são substâncias naturais. "Não existe UMA dieta contra câncer, UM tratamento preventivo contra o câncer, UMA fruta contra o câncer, UM remedinho barato contra o câncer nem UMA fórmula feita contra o câncer. A melhor dieta para ajudar na luta geral contra a doença é a melhor dieta para o ser humano, variada e equilibrada, bem como os hábitos gerais de vida são basicamente os mesmos para ter uma vida mais saudável como um todo".* 

Agora vêm me dizer que não tenho fé? Ninguém imagina o tamanho dela, e não tem o direito de falar. Se estão dispostos a ajudar a manter a minha esperança, com pensamento positivo e orações, bem vindos. Mas vender curas mirabolantes, além de ser irritante, é crime.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que eu penso sobre a morte?

Morte: um assuntinho sobre o qual ninguém gosta de falar (e que, muito provavelmente, tenha causado um certo estranhamento a quem leu o título acima). Mas, pera aí. Todo mundo morre, confere? Eu, como todo mundo, não sou imortal. A diferença é que, convivendo com a sombra e com o peso de uma doença que, para muitos, é sentença de morte, acabo descobrindo o verdadeiro significado da vida. Clichê, né? Pois é, toda essa coisa de "Aproveite a vida como se fosse o último dia", "Viva um dia de cada vez", "Dê valor às coisas simples" e outros blábláblás fazem todo sentido, no fim das contas. Afinal, hoje eu estou viva e, nesse mesmo hoje, muitos morreram de acidente de trânsito, de infarte, vítimas da violência urbana, ou com uma picada de cobra. E muitas dessas pessoas, que não tinham câncer, não souberam aproveitar a vida, não puderam dizer "Eu te amo" a quem elas amaram, não puderam dizer "Desaprovo" a muitas coisas que elas não gostaram, não puderam se despedir, enfim. Não que minha vida seja uma constante despedida, pelo contrário, acho que se eu viver 30, 40, 90 ou 105, vão ser anos muito bem vividos. Terei feito tudo o que me deu na telha, sem pensar no futuro. Porque a vida é aqui, agora, já. Imortal é essa essência, imortal é a lembrança que você deixa aos que conviveram com você, imortal é a diferença que você pode fazer neste mundo. Mas você, você não é imortal, tendo ou não câncer! Ah, tem mais, quando eu morrer não quero velório. Não quero ninguém chorando a minha morte. Mas convido todos, sim, a  celebrarem a vida... Tim-tim?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dia dos pais: um vazio que ficou

Apesar de muitos acreditarem que é difícil falar de si mesmo, eu não concordo. Sempre que converso, conto ou escrevo um acontecimento próprio, desabafo. Mas se tem um assunto que eu evito tocar ou mesmo lembrar, esse assunto é o meu pai. Confesso que não me agrada nem um pouco. Mas, pela pertinência que terá, e principalmente pela data que se aproxima, considerei mais do que justo contar um pouco de quem foi esse homem, chamado Clóvis Scandiuzzi Vieira.

Acho que desde que ele morreu, há 5 anos e meio, eu não falei muitas vezes sobre isso. Escrever então... nunca nem pensei. É difícil porque são muitas lembranças boas, que trazem saudades. Mas o que mais pesa são as últimas lembranças, as que antecederam a sua despedida. Foram mais de 2 anos lutando, lutando contra um câncer, um maldito câncer cerebral. É impossível passar aqui tudo que eu senti, e ainda sinto, mas é notória a minha raiva com relação a essa doença, enquanto doença incurável e até intratável (como foi o caso dele). Sei lá, difere muito de quando é com você mesmo. E é aí que me coloco no lugar das pessoas que me amam, por exemplo. Sempre afirmo que elas sofrem mais por mim, do que eu mesma. Você ver a dor e o sofrimento do outro e não poder fazer nada, só esperando a morte chegar, é indigno.

Mas eu não quero transformar isto aqui num mar de lágrimas, até porque se eu continuar por esse caminho, não consigo terminar o texto. Talvez valha mais a pena focar nas boas lembranças. E são muitas! Meu pai, um gordinho alto - gordinho não, gordão mesmo -, daqueles de "pança" rígida. Guloso, preguiçoso, bem-humorado (tenho a quem puxar hahaha). Ele falava aSSim, doCinho, Sabe? (com a língua presa entre os dentes). Clovão, o gordão mais carismático do sul do mundo. Comia romeu e julieta de lamber os beiços. Chamava minha mãe de "Mor" - "Ô, Mor, faz uma batatinha com molho pra mim!". Aos domingos de manhã, eu e meus irmãos pulávamos na cama deles, só pra ouvir a historinha do tomatinho, que a cada semana tinha um desfecho diferente.
Pai e eu, no meu aniversário de 15 anos - Nov/2003.

Era orgulhoso dos filhos, e fazia questão de sempre dizer. A última vez que lembro ter arrancado um sorriso dele foi quando passei no vestibular. Ele estava lá, na cama hospitalar instalada em casa. Só estávamos ele, a empregada e eu. Vi a notícia na internet e saí gritando, contei pra ele, que, mesmo já inconsciente, sorriu. Pra mim foi uma surpresa! Muitas vezes até aquele dia ele já nem me reconhecia mais, nem sabia mais meu nome. Mas nesse dia sei que ele sentiu orgulho; pode não ter lembrado meu nome, mas sentiu orgulho. O último que consegui dar...

Antes de me mudar pra Guarapuava, me despedi, no sábado, rapidamente, numa UTI. No domingo, viajei. Só tive dois dias pra conhecer os colegas. Na terça à noite, a notícia da morte. Uma notícia já esperada e, paradoxalmente, avassaladora. Eu e minha irmã corremos de volta pra Apucarana, antes que desse tempo de "começar o ano". Sei que muitos dos colegas da faculdade que estão lendo dirão: "Nossa, eu nem sabia disso!". Pois é, não fiz questão de contar. Ainda acho isso tudo muito injusto e queria ele aqui pra desejar feliz dia dos pais, e dizer o quanto eu o amo.

P.S.: Diante de tudo que foi vivido, esse texto torna-se superficial. Mas é que cada detalhe dessa história foi guardado em uma caixinha tão bem lacrada, que nem eu mesma sei como abrí-la.